terça-feira, 10 de maio de 2011
Imprevisível mesmo é o fim de um outono
Era uma tarde de fim de outono muito bonita. Nós estávamos sentados num banco apreciando o pôr-do-sol, nessa época do ano, esse era o mais belo espetáculo do dia. Havia folhas no chão e uma brisa fria às vezes passava por nós, querendo levar os cabelos, era uma sensação muito boa. Nossos dedos entrelaçados e quentes me davam impulso para seguir com a vida, me deixava confiante sobre o presente, o futuro. Como eu o amava! Era impossível não arrancar um sorriso meu com ele vindo em minha direção, com ele contando uma piada, com ele fazendo suas caras e bocas, com suas manias bobas...
Desviei os olhos do sol dando adeus, olhei para ele. Fiquei surpresa com o que vi, estava tão bem e feliz que acabei me fechando na bolha que criei. Ele não estava onde eu estava. Seu rosto sem emoção, sem feição, sem irritação, sem amor, sem alegria. Ele estava inerte. Não sabia naquela hora o que me esperava, mas minha bolha estourou e meu coração despencou do peito para o pé. Lembrei daqueles sonhos em que caímos de prédios e acordamos num salto na cama.
Vendo que o olhava, já com cara de preocupada e lábios secos e, provavelmente, brancos. Abaixou os olhos daquele jeito como quem se desculpa, isso esmurrou o meu peito. Da onde estava vindo tudo isso? Não queria irromper o silêncio, que se arrastou, até porque, não sabia como fazê-lo e tinha medo. Muito medo. Passada por entre os dentes, sussurada, a palavra veio: "Desculpa". Eu já tinha entendido isso quando me olhou, não era isso o que eu queria saber, era o porquê. Porém nada saia da minha boca, continuava a olhá-lo fixamente.
Mais uns minutos e então ele ficou preocupado e começou a falar algumas bobagens, eu não conseguia acompanhá-lo. Na minha cabeça rodava "por que?" "está tudo terminado" "acabou" "não acredito" "por que?" "não vou suportar" "filho da mãe". E fiquei furiosa. Muito furiosa! Olhei bem nos olhos dele, com o maxilar travado. Vendo meu rosto daquele jeito, parou abruptamente de falar e me deu a vez. "Está acabado?" Ele abaixou os olhos mais um vez e com um mísero assentir de cabeça, confirmou o que eu já sabia.
Percebi naquela hora que ainda estávamos de mãos dadas, tirei minha mão da sua, o que doeu muito mais do que eu pensaria; meu coração que já estava no lugar que deveria, caiu de novo. Me levantei, dei as costas e fui andando, sem dizer adeus. Não, isso eu não suportaria. Também não olhei para trás, não o queria comover com minhas lágrimas, se é que ele se importava o bastante para isso. Mas não queria sequer que ele pensasse que o queria comover. Dignidade é uma coisa da qual não abro mão.
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"não o queria comover com minhas lágrimas, se é que ele se importava o bastante para isso". Pois é né?
ResponderExcluirMUITO DIGNO!
*-*
ah, ja disse que é o meu texto preferido de todos?? *-*
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