quinta-feira, 19 de maio de 2011

Luzes da Cidade


Da varanda do seu apartamento ela contemplava os prédios e as luzes e a negritude do céu. Não dava para ver quase estrela nenhuma. Não era uma coisa que ela sentisse falta, nunca chegou a ver mais que algumas dezenas delas. Ela gostava mesmo era dos prédios altos e dos carros passando velozmente, luzes piscando e voando. Ela adorava aquele aspecto cinza, naquele lugar, ela se sentia em casa, em segurança.

Não se sabe quanto tempo ela ficou ali refletindo sobre tudo e formando imagens em sua cabeça. Ela adorava inventar contos de fadas modernos e é bem verdade que já viveu alguns, mas estes inventados eram infinitamente melhores. Ela estava ali só desejando que eles acontecessem. Mas os carros continuavam passando. As luzes continuavam voando e piscando. O ceú continuava negro, nada mudou; nenhuma estrela cadente veio recolher seu pedido.

O seu querido e amado mundo é assim mesmo. Ninguém se importa e ninguém quer ouvir. Você pode gritar e espernear, isso só te tornará uma louca. E naquele momento, ela quis correr esse risco, ela quis se fazer ouvir, mesmo que apenas pelo céu. Ela quis ser vista, mesmo que somente pelas luzes fluorescentes. Ela pegou sua tralha e saiu, sem hora pra voltar. O conto de fadas pedido para a estrela cadente que nunca passou mudou. Ela foi espalhar seu dom, porque o mundo merecia conhecê-lo e era dever dela para com ela, não se boicotar.

Talvez, alguém realmente tenha reparado naquela menina fotografando cada canto da cidade, talvez não. O que importa é que ela voltou para casa com a sensação de dever feito. Ela então se deu conta de que viverá esse conto todos os dias, enquanto isso a fizer bem e quando isso não for mais suficiente, ela procurará outra coisa, só não voltaria para a sua varanda. Agora, ela não contenta mais em ver os prédios cinzentos ao seu redor, ela quer estar entre eles, rodopiando, explorando.

Um comentário:

  1. sempre escrevendo super bem!!! Adoro,Dai! Vê se passa lá no innovare sumiu de lá hein!

    beijos enormes

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