segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Caso de Emergência


Eu que já tinha perdido a esperança, a recobro, eu que já não acreditava mas em mim.

Sabia que um dia alguém viria me curar, me cuidar, mas essa pessoa jamais chegava e eu ficava à porta sofrendo com minha doença e então como ninguém chegava, resolvi simplesmente deitar e reconhecer que as únicas coisas que sobraram foram quadros jamais pintados ou sequer desenhados, textos guardados na mente, nem escritos, nem lidos, muito menos ouvidos, tinha ainda alguns passarinhos cantando que me incentivavam a abrir os olhos de manhã, mas não via como poderia fazê-lo na manhã seguinte, esta noite estava insuportável, a dor jamais foi tão intensa, achei que eu já estava morta, mas a dor continuava e vi que por um castigo injusto ainda estava viva e a dor continuava, como eu poderia ainda estar viva? Como ainda não explodi?

BUM

Pronto, agora estava morta. Não.

Era a porta que fora arrombada e eu me assustei, não pela invasão, mais pela minha sub-vida ainda estar comigo. E lá estava ele, todo de branco muito bonito mas então eu a vi e só tive olhos para ela, a maleta na sua mão, provavelmente era aquilo que eu estava esperando, um alívio para a dor, ou pelo menos algum atalho para a morte. Ele sorriu, colocou a maleta na mesa e com suas mãos grande e fortes tirou dela um frasco que fez meu coração bater, o que me assustou, a quanto tempo ele não batia? Então ele me medicou e ficou a noite inteira fazendo vigília, e eu não precisei me preocupar em não conseguir abrir os olhos na manhã seguinte, eu sabia que dessa vez, com um remédio daqueles, minha doença não resistiria, ela só podia acabar, lutando em vão para sobreviver a mais um remédio.

Coitada, minha doença não tinha chance com algo daquela magnitude, parecia que aquele homem tinha estudado meu organismo e descoberto exatamente do que ele precisava para se curar: esperança de um futuro vivo, não semi-vivo. Minha doença não resistiu, ela odiava me ver saudável e viva, era tão egoísta, eu poderia viver com ela, mas ela se recusou e então a guerra começou e eu a guerra eu ganhei com um aliado.

Não me preocupo se algum dia ela vier a se manifestar de novo, a receita da cura agora eu sei.

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